Paulo Rosa
“Chomsky & Mujica”
Por Paulo Rosa
Pediatra, psicanalista
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Com o nome do título acima, Saúl Alvídrez, um jovem ativista mexicano, publicou recentemente um livro de duzentas páginas, dedicado a Julian Assange. Muito ativo politicamente, Alvídrez teve de refugiar-se em variados países do sul latino-americano e, na sequência, imaginou e deu cabida a um longa, em forma de documentário, onde, louvado seja o empenho, conseguiu juntar o conhecido intelectual norte-americano Noam Chomsky com o efetivo político uruguaio e ex-presidente José “Pepe” Mujica, mais conhecido ainda nestas paragens. E como se tal fosse pouco, o autor do filme e do livro convidou ao celebrado músico inglês Roger Waters, cofundador da banda Pink Floyd, como narrador. Um balaço, como se soe dizer aqui no terceiro de Piratini.
Diz Alvídrez que se sentiu motivado a este verdadeiro evento cultural, ao perceber que sua geração, os “millennial e centennial”, herdaram uma hecatombe, algo insustentável, em termos políticos, econômicos, ecológicos e sociais. Sua intenção é a de que esses jovens atuais possam ampliar - e em muito - um debate público, visando soluções para problemas globais que nos atingem a todos. O livro já e o filme pretendem-se lenha para essa fogueira.
Chomsky é professor emérito no MIT, o destacado centro de investigação de Massachusetts, atuando hoje na discreta Universidade do Arizona, também nos EUA. “Os dois assombrosos desafios que enfrenta a espécie humana para uma sobrevivência decente são […] as armas nucleares e a catástrofe ambiental. E a melhor defesa contra o desastre terminal seria uma democracia funcional [...] a formulação de políticas durante a era neoliberal aumentou significativamente estas ameaças [...] os princípios neoliberais excluem a população geral de participar na formulação de outras políticas e soluções”, refere Chomsky (pág. 54), o que todos sabemos e conhecemos de processos de gestão, privada e/ou pública, em que o elitismo de poucos trata a massa coletiva como infantil e carente de um norte.
Pepe Mujica, sangue vasco e italiano, esteve na luta armada, como tupamaro, foi preso por uns 15 anos, torturado à morte, mas sobreviveu e chegou a deputado, depois, senador, por fim presidente, notabilizando-se internacionalmente, sendo que em sua gestão, em 2015, o jornal The Economist declarou o Uruguai como país do ano.
“... A humanidade em sua história cometeu muitos desastres sem saber, mas agora o faz sabendo, com consciência de sua autodestruição”, refere Mujica, destacando que “costumamos pensar em termos de Estados e não decidimos em termos de espécie [...] cometemos disparates.”
Chomsky e Pepe Mujica coincidem que “tampouco os líderes políticos estejam à altura [...] fundamentalmente [escutam] às poderosas forças econômicas da sociedade [...] há um divórcio muito grande entre as conclusões que chega a ciência contemporânea e as decisões políticas.”
Dupla macanuda.
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